Por que outubro pode ser um mês decisivo para o Bitcoin chegar a US$ 100 mil, segundo analistas
A mais recente medida do governo chinês contra o mercado de criptomoedas não abalou o preço do Bitcoin (BTC) na mesma proporção da crise instalada em maio deste ano, e foi ainda menor a sua capacidade de derrubar expectativas dos mais otimistas para outubro.
O mês que se avizinha é historicamente de alta para o Bitcoin, e a crença de que o ciclo atual ainda não teve fim alimenta as esperanças de que novas máximas podem chegar ainda em 2021. Uma das âncoras dessa ideia é o tamanho menor da disparada de preço da criptomoeda até aqui na comparação com os últimos ciclos de alta.
O movimento que fez o Bitcoin disparar mais de seis vezes, de cerca de US$ 10.600 em 1º de outubro de 2020 para quase US$ 65.000 em abril de 2021, na visão de alguns analistas, deveria ser pelo menos igual ao de anos anteriores – e, como não foi, o ciclo ainda não estaria completo.
Segundo estimativas do analista técnico e fundador da Enfoque, Fausto Botelho, a valorização do primeiro ciclo do Bitcoin aplicada ao mercado atual levaria o preço para pelo menos US$ 1 milhão. Já uma projeção mais conservadora, levando em conta o rali que culminou no final de 2017, aponta que o topo do ciclo em curso estaria entre US$ 100 mil e US$ 200 mil.
Mas, de onde viria o dinheiro? Para alguns analistas, a resposta é clara: grandes fundos de investimento já estão expostos ou de olho no Bitcoin, e o que não falta é capital parado em instrumentos de baixo rendimento pronto para ser alocado em cripto.
“O investimento de fundos de Venture Capital em empresas de cripto está em um nível surreal, com empresas fazendo rounds de 200, 500, 800 milhões de dólares. É dinheiro para contratar gente, há uma fuga de cérebros de mercado financeiro e tech para cripto”, aponta Bruno Sousa, Diretor Jurídico e de Compliance da Hashdex.
Os números não são exagero. Apenas na semana que passou, fundos de Venture Capital investiram US$ 200 milhões em um novo projeto de rede social com uso de criptomoeda, e outros US$ 431 milhões na mineradora Genesis Digital Assets.
Incerteza regulatória
No entanto, o dinheiro institucional alocado diretamente em cripto e que empurrou os preços em 2020 estagnou este ano. Mais sensíveis à volatilidade, os grande hedge funds teriam ficado satisfeitos com o rali do ano passado e realizado lucros. Ao mesmo tempo, viram menos necessidade de se proteger de uma crise generalizada com um ativo descorrelacionado dos mercados tradicionais.
De outro lado, o ambiente regulatório do momento não ajuda. Além da repressão chinesa às criptomoedas, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês), está subindo o tom nas falas sobre o mercado cripto, e sugere que uma regulação generalizada pode estar em curso.
Theodoro Fleury, gestor da QR Asset Management, aponta que investidores institucionais esperam por um alívio nas tensões entre indústria cripto e reguladores, além de sinais macroeconômicos mais claros que encorajem a busca por ativos de refúgio, como uma repetição do que se viu em 2020 na crise do coronavírus.
“Não é que o interesse institucional acabou, [mas] para ter um gatilho de movimento de compra mais forte por parte desse tipo de investidor é preciso ter um sinal mais macro de mercado. O Bitcoin está em um compasso de espera”, avalia.
Fleury ressalta o histórico de alta do Bitcoin em outubro e no último trimestre como um todo, mas se mostra cauteloso com o preço no curto prazo. Um dos motivos é o baixo prêmio da criptomoeda no mercado de derivativos, algo que costuma subir em mercados de alta. Por outro lado, ele está seguro de que o ciclo atual não terminou – só não crava quando irá retomar.
ETF de Bitcoin
O grande investidor está hesitante, mas analistas apostam que grandes notícias relacionadas ao Bitcoin podem ajudar a criar um novo catalisador. Para outubro, só se fala na possível aprovação do primeiro ETF de Bitcoin nos Estados Unidos.
Diversos ETFs de criptomoedas foram submetidos à SEC por VanEck, WisdomTree e Goldman Sachs, entre outros bancos e gestoras, mas até agora nenhum foi aprovado. No entanto, o mercado trabalha com a hipótese de liberação em outubro de ao menos um ETF de futuros de Bitcoin após sugestões públicas dos reguladores de que um produto do tipo poderia ser bem recebido.
Desde então, várias gestoras alteraram os pedidos, aumentando a expectativa pela aprovação. Embora um ETF de futuros não seja o ideal, ele já é visto como capaz de animar o investidor institucional, que precisa de veículos regulados para se expor a criptomoedas.
“Certamente seria uma grande notícia, e que tem potencial de puxar preço porque muda um pouco o cenário”, afirma o executivo da Hashdex, lembrando que uma eventual não aprovação, por outro lado, não deverá impactar negativamente os mercados de cripto. A Hashdex, vale lembrar, também está na fila para obter a aprovação de um ETF de criptomoedas nos EUA, “irmão” do HASH11 (HASH11) negociado na bolsa brasileira.
Já Alexandre Vasarhelyi, gestor da BLP Crypto, vê com bons olhos o momento que alguns chamam de incerteza regulatória, especialmente levando em conta a perspectiva de obter a aprovação do primeiro ETF de Bitcoin nos EUA. “Quanto mais a SEC se debruçar sobre o universo de criptoativos, mais provável é aprovar um ETF. O que eles nunca vão fazer é aprovar um ETF sem estudar”, opina.