MONUMENTOS SOVIÉTICOS ABANDONADOS NO GELO
O fotógrafo russo Danila Tkachenko documenta com perfeição o sonho da União Soviética conservado no gelo eterno através do avanço tecnológico
O vento varre com força a extensa taiga no noroeste da Rússia, uma tempestade de neve tão escura que enxergar as próprias mãos é difícil. Surge, então, um colosso de aço preto: o maior submarino à diesel já construído, perdido em um deserto branco. As imagens de Danila Tkachenko parecem perfeitamente desenhadas em horas de pós-produção ou uma brincadeira com objetos em miniaturas. Mas são construções reais do sonho imperfeito da antiga União Soviética, um memorial de uma era há muito tempo esquecida. No projeto Restricted areas, o fotógrafo russo de 27 anos documenta centros de pesquisas, campos de armamento, sistemas de mísseis e outras estruturas da corrida tecnológica soviética que agora, esquecidas, apodrecem lentamente.
A ideia de fotografar o sonho soviético conservado no gelo surgiu para Tkachenko depois de uma visita a sua avó, em Ozyorsk, cidade que, décadas atrás, foi importante no trabalho de desenvolvimento da bomba atômica e abrigou o primeiro reator nuclear em funcionamento da União Soviética. Lá, em 1957, houve uma explosão no aterro para resíduos nucleares que ficou escondida do público por mais de 30 anos – apesar de ter causado uma contaminação em larga escala. “Isso me chamou a atenção para questionar as desvantagens do progresso tecnológico, que nem sempre faz tudo ser melhor”, diz Tkachenko. “Viajei bastante na procura de lugares que tinham a superioridade tecnológica como um conceito particularmente importante. Agora, estão abandonados. Perderam o seu significado, assim como sua ideologia utópica, que ficou obsoleta.”
Muitos desses lugares – ainda hoje considerados zonas restritas – eram cidades secretas, isoladas. Não estavam em mapas nem em arquivos públicos e eram chamadas por codinomes criptografados. Centenas, talvez milhares de pessoas, abrigavam-se na imensidão da taiga cercados por bases militares, antenas troposféricas, silos de mísseis, laboratórios. Agora se transformaram em cidades fantasmas. Mas Tkachenko não entende seu projeto, que foi publicado em livro no começo de 2016, como uma crítica ao comunismo ou a União Soviética. Em vez disso, ele busca reproduzir em suas imagens um apocalipse pós-tecnológico. “Eu estava interessado em observar a natureza ambivalente do progresso, que muitas vezes vem com a destruição.”
Com neve por toda parte, foram necessárias várias tentativas para conseguir fotografar as relíquias sob condições ideais. Tkachenko passou mais de uma semana em temperaturas congelantes no pico de Buzludzha, na Bulgaria, esperando a luz certa para fotografar a antiga sede do partido comunista. Outros locais era acessíveis apenas depois de dias de caminhada em neve funda, como uma antena para comunicação interplanetária, exemplo do entusiasmo sem limites da União Soviética com o cosmos e as viagens espaciais. As bases planejadas em outros planetas, entretanto, nunca foram construídas, e por isso a fascinante antena nunca foi utilizada.